O Velhaco
I -
Era preciso parar
privou-se das palavras
era uma entrevista
sem que devesse ouvir.
Em páginas
mal lidas
era falsete dos sons
luzes opacas...
e outra letra em rabiscos
soa música, sem rock
ouvia valsa
salsa
dançava feito mudo,
Em Outras palavras:
Arbusto que deixou de regar
Rasgou através das folhas.
Saiu à caminhar.
II -
Bem-vindo
dizia.
Não via nem ouvia,
confirmava no sorriso aparente.
Aparentava.
Aguares que soam
Frio que atordoa
Livros sem orquestra,
E dança,
refaziam o pleno
em silêncio.
III -
Desatou:
Espero o vazio
Pelo siso que me aproximei,
Estou por uma sensação de caos
que me organize.
Até quando?
Respondia o sujeito que debaixo de chuva parecia dar braçadas para
nadar.
Até que o caos chegue ao cume.
Não é muito tempo?
Dando pulos que para um velho não veria tantas vezes, respondeu
com outra pergunta.
Refere-se ao tempo que já passou? Ou...
Estou preso em celas de vidro,
aparente.
E quando me transformo
é sem que sirva.
O sujeito perguntava e durante as respostas
Jogava-se de peito, deslizando sobre a mesma poça;
Quando percebi que estava jogando meu eco
a este velho
do peito ensanguentado
e o senhor, o que faz?
O velho olhou sorrindo, e jogou-se novamente.
Sugere algo? Disse pulando com a boca floreando a infância
preservada.
Depois de vê-lo fazer mais algumas vezes, que não pude contar,
Pois o olhava com reminiscência.
IV-
Vi Serena passando pela vitrine
Cansado do velho entrei sem que ela visse e fiquei ao canto do
bar.
Serena avistou-me, aproximou-se
Olhando à caderneta que anotaria o pedido
-O que vai querer?
-Não sabia que trabalhava aqui.
-Sou recém-contratada. Está todo molhado, tire o casaco ao menos.
-Conhece aquele velho? Perguntei apontando-o.
Desde que comecei, sempre o vejo pulando no chão e cantando.
O que vai querer? Repetiu, Voltando a cara para caderneta.
Pedi-lhe uma folha.
"Sussurro para que não assuste:
o albatroz
criado,
Desperta
Reaparece
Quando as paredes esmagam-me.
Sussurro um susto:
sons de clamor
desabo até o gosto amargo
tornar-se estático.
Repito-me quando em desespero.
Anseio reescrever-me
em linhas
que de ao caos
outras buscas
e aparência"
Pedi qualquer bebida. Permaneci olhando o velho. E quando olhava
para Serena eu estava sendo observado. Ela me fez algumas perguntas, mas decidi
ficar em silêncio.
Bebi qualquer coisa que embriagasse,
sem gosto,
com o pouso
desgraçado;
a graça
e
um convite
com o numero
anotado ao guardanapo,
______--------__--_-----__---___----__--___
Quando virei as costas e cheguei a outra rua
o velho apareceu com um livro.
Ofereceu-me um trago do cigarro
Abriu a parte em que estava marcada:
"surpreenderia
com os holofotes em ti?
duvidaria
e assim questionaria?
pouco
importa qualquer questão
quando
os passos estão enlameado
Aliás
carrego lama até o pescoço
eu por
isso aprendi a nadar
seja
qual poça escolher-me
Não
perguntarei
com os
ouvidos tapados.
Reage a
quais solventes?
Descobre
sempre ingênuo
e por
impulso
se faz
distraído
não
enxergarás teus movimento
se fizer
deles consequência da lama."
Com a cabeça zonzeando
escolhi uma poça
e fiz o mesmo que o velho
Não
buscava nada. Pulava sem hesitar.
Raspei com o rosto e o peito:
em sangue e cheio de cacos de vidro fincados sob a pele
tornei a seguir pelas ruas.
Serena novamente avistou-me,
dessa vez jogava-me na poça,
lamentava-se acreditando que eu fosse o velho...
Falou sobre existência
e falência,
confundiu os cigarros
e bocejou algumas gargalhadas
Reconheceu-me quando a chamei pelo nome.
Decidimos ir ao mar.
V-
Serena revelou.
Cambaleando, curvado, à beira d’agua. Era até onde
meu equilíbrio levou-me. Caí.
-Não consigo viver um dia após o outro,
Qualquer traço que eu comece estará entregue antes que eu
durma,
Depois disso a continuação permite-me somente dar um titulo
ao tracejar.
O velhaco interrompeu, com gargalhadas.
-Vocês não podem estar falando a mesma língua.
-Venho atrás de meu livro.
-Tu me deste, agora quer tê-lo de volta?
Sem responder olhou-nos
Com a boca arqueando risos e barulhos
Correu com as ondas, pulou-as,
Foi, foi... foi...
Serena tinha um de seus brincos azul
Outro vermelho
Cabelos compridos
E o sorriso era como resposta a qualquer
Questão do instante.
Engasguei com a maré que enchia;
Embriagado, serena levantou-me a cabeça.
E disse que o velho demorava muito tempo.
-Deixe-o, ele voltará.
Serena atirou-se ao mar.
Cobria-me, por não conseguia levantar-me.
Faltava-me o fôlego, a sede saciável,
Empurrava o sal bloqueando-me a garganta.
VI-
A noite clareava, a lua punha-se no mar.
E quando acordei serena estava em meus braços. Levantei
Deixei-a com a cabeça inclinada sobre a areia
Algumas dezenas de pessoas e flashes apontavam para figuras
desenhadas na areia,
-Acorde serena, veja quanta gente apareceu enquanto adormecíamos.
Levante-se serena.
Gritei pedidos de ajuda,
Os turistas nem se quer olhavam
A poucos metros.
Um por um
Estrondosas risadas
Deixavam as câmeras postadas ao chão
E corriam ao mar
Pulando e gritando: ondas e sal.
VII –
Um rapaz com o violão às costas
Tentava acordar-me:
Hei, precisa de ajuda?
- Serena; e o velho; onde estão?
-Encontrei o senhor sozinho, vi que está machucado; quer que eu
ligue para emergência.
Não precisa já estou bem
Levantei-me, com a cabeça afundando.
Sentei-me
Encontrei uma folha em que o velho havia deixado
O rapaz sentou-se e pôs-se
a tocar o instrumento.
Com a vista escurecendo novamente, pedi para que o rapaz lesse.
Em alto e bom tom
Começou:
SINUOSO
ESTE PODRE
ISTO QUE FEDE
FORA AS LINHAS
QUEBRADAS
UMA
PÓS
OUTRA.
MEU MURO COM
MEMORIANDO
ESVAZIA-SE DOS
SENTIDOS;
NÃO CONTO MAIS OS
PALMOS
ESVAIU-SE O SABOR
NÃO PRECISAVA MATAR O
PERSONAGEM
PARA DEIXÁ-LO MORTO
O TEMPO PESA, COMO SE
DESSE CONTA
DO RODAR, TARDE
DEMAIS.
ISTO NÃO SERIA
DESESPERO PARA SUBMISSÃO
CASULO APODRECIDO
OS ANALISTAS BUSCAM
SOBREVIDA
PARA PODRIDÃO.
ONDAS
ONDULAM-SE:
O MAU- CHEIRO JÁ ESTÁ
SENDO CURADO.
Talvez o meu preferido até o momento...Texto de tirar o fôlego. Quantas passagens! Uou, muito bom, muito bom.
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